sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sete de setembro, independência ou morte?!

Mário Sérgio Melo Xavier
(Colaboração para o EstadoWeb)


Lembro-me como se fosse hoje, de quando eu dava uma boa polida no meu sapato preto, tingia aquela calça surrada de azul e me deliciava com um café da manhã bastante reforçado, uma vez por ano. Toda essa preparação era para participar dos desfiles de 07 de setembro que ocorriam em Dianópolis-To. Todos os anos, o barulho da fanfarra dos alunos do Instituto de Menores e das bandas da polícia militar, saiam ensurdecendo a cidade, mas lá estava eu, com meu uniforme colegial, todo gomadinho, acenando a bandeira do Brasil, juntamente com centenas de outras crianças que, como eu, até podia não entender bem o que aqueles soldados representavam com aquelas armas, aquela belicosidade toda, mas sentia certa vibração, uma energia contagiante, como que me convidando a integrar à aquele grupo, mostrando-me que havia algo maior a defender, para tomar conta, e que era meu, o meu país!

Porém, os anos vão passando e vamos vendo que, na verdade, pouca coisa agente sabia (e ainda não sabe) sobre a comemoração. O que estudamos é que foram muitos os antecessores de Dom Pedro I que tentaram a independência, mas muitos vieram a morrer, como foi o caso do inconfidente Tiradentes, por volta de 1780. Depois de muitas tentativas, Dom Pedro I, enfim, conseguia dar “um jeitinho” de resolver a tão sonhada independência. Portugal exigiu do Brasil o pagamento de mais de 2 milhões de libras esterlinas para reconhecer a independência de sua ex-colônia. Sem este dinheiro, D. Pedro I teve que recorrer a um empréstimo da Inglaterra. Embora tenha sido de grande valor, este fato histórico não provocou rupturas sociais no Brasil e Dom Pedro I ficou com toda honra e toda glória. O povo mais pobre se quer acompanhou ou entendeu o significado dessa independência. A sensação que fica é que as comemorações vieram para construir um imaginário, fazer com que os sujeitos se reconhecessem em sim mesmos e por eles fossem representados, significando a passagem de uma situação de “colonizados” para “livres”, a partir do nascimento do Estado Brasileiro. As práticas do sete de setembro vieram para abarcar um conjunto de estratégias e técnicas para fazer funcionar a máquina disciplinar que visava, unicamente, a formação do novo homem brasileiro, que tem que ser patriota, cristão, trabalhador, “disciplinado”. Na verdade, o que veio após a fase de colonização, não mudou em nada vida dos novos “brasileiros”. A estrutura agrária continuou a mesma, a escravidão se manteve e a distribuição de renda continuou desigual. A elite agrária, que deu suporte a D. Pedro I, foi a camada que mais se beneficiou e até os dias de hoje ainda se beneficia com isso.

Portanto, diante dessa perspectiva, trago-lhes, à título de reflexão, uma frase de autoria do imortal Chico Xavier: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim... " Ou seja, apesar de o Brasil já ter começado errado, isso não significa que agente não possa recomeçar um novo Brasil, não amanhã, mas agora. Um belo passo para isso, seria escolher os candidatos de forma lúcida e independente nessas eleições. Nós que somos dianopolinos, tocantinenses, brasileiros, não somos de esperar, sempre fomos de decidir, de fazer acontecer, de dar um boi para não entrar em uma briga, mas de dar uma boiada para não sair dela. Ao longo de nossa história já mostramos que nossa resposta é corajosa, destemida, que somos combatentes, assim como os soldados que eu via em minha infância. Todos nós devemos relembrar/comemorar o sete de setembro, buscando uma Dianópolis, um Tocantins e um Brasil melhor. O “marcha soldado, cabeça de papel!” que agente tanto ouvia em nossa infância, deve sair das cabeças da criançada e se transformar em pipas coloridas, rumo ao céu desse nosso Brasil, que é povoado de uma brava gente brasileira, que faz de cada pipa o desejo de uma real liberdade, de uma real independência. Exigir a independência que hoje nos apresenta através das frases: trabalho certo todos os dias, comida quente na mesa, educação dos filhos assegurada, a saúde certinha e os políticos a serviço de toda gente.

TEXTO PUBLICADO NO JORNAL O ESTADO