quarta-feira, 24 de junho de 2009

OPINIÕES QUE VALEM - O preço da desonestidade



"Estou duro. Pensei: veio em boa hora", disse o gari, José Gomes da Costa, ao relatar o seu achado: um cheque que voava pelas ruas de Francisco Morato, na Grande São Paulo. Mas, na contramão da corrupção e da bandidagem explícita que assola nossa sociedade, que assistimos todos os dias nos noticiários, esse homem pobre, trabalhador e honesto, procurou a quem de direito e devolveu o cheque no valor de R$ 2.514,95 - num ato de decência e moralidade irrepreensível. Em Santa Catarina, uma vítima das enchentes encontrou R$ 20 mil nos bolsos de um casaco doado e procurou o doador para devolver a quantia. Por outro lado, militares do Exército e alguns voluntários foram flagrados furtando produtos de doações às vítimas das enchentes.

Esses são alguns exemplos de que a sociedade ideal, depende necessariamente de valores como a justiça, honestidade, solidariedade e a irrestrita obediência às leis, sem vínculos hedonistas e alicerçada na racionalidade voltada para o bem comum. Deixar tudo isso de lado, significa comprometermos a continuidade da democracia e imortalizarmos as ideologias totalitárias e a imoralidade.

Há uma linha tênue entre ser honesto ou desonesto, bem como, dizer a verdade ou quase toda a verdade. Nada justifica a máxima de que, ser pobre implica ser honesto, bem como não há indícios de que ser rico também o é. A honestidade é código genético, está na índole da pessoa. É o que norteia seus atos, seja para o mal ou para o bem. Ser honesto vem de berço, do seio familiar, mas que anda em desuso quando o assunto é ganhar. Uma pessoa honesta é correta, age com transparência, fala e age com a verdade. Ser honesto é ter a capacidade de viver sem enganar o próximo, sem tirar partido da boa fé, da ingenuidade ou de uma possível posição de fragilidade alheia. Tantos atropelos, trapaças, negociatas, má gestões e assaltos ao dinheiro público; planos mirabolantes urdidos na tentativa de construção de verdadeiros impérios – onde os meios justificam os fins – para que seus descendentes não careçam de “bater um prego numa barra de sabão”, jamais!

A apologia à famigerada “malandragem” do brasileiro e que para alguns, às vezes é motivo de orgulho, é exatamente o rombo no casco desse barco à deriva. E quando isso ocorre, os ratos pulam fora. A recente crise no circo político nacional, a avalanche de denúncias que estão por minar a credibilidade do Senado, serve de pano de fundo para o tema em tela. O Senado Federal passa por um momento de tensão, que revela que o seu DNA está eivado de fatos assombrosos, que somam mais de sessenta casos de denúncia, só esse ano. Uma média de dez casos por mês.

Em viagem ao exterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a inércia das investigações da “caixa-preta” daquela Casa, que só surgem mais e mais denúncias, mas nada é feito; livra a cara do senador José Sarney e opina ironicamente que ‘forças ocultas tramam desestabilizar o Legislativo Nacional’ e que isso precisa ser investigado também, pois quando tivemos o Congresso Nacional desmoralizado e fechado, foi muito pior para o Brasil. Seria um recado para o povo?

Fica nítida a intenção de Lula, em fazer valer a justificativa que ele sempre utilizou diante dos incontáveis escândalos que já assolaram o seu governo: “não sei, não vi e tenho raiva de quem sabe”. José Sarney - quem nem de longe é flor que se cheire - sob a égide do seu bigode inconfundível, se esquivou e julgou estar sendo desrespeitado e injustiçado; que a crise é do Senado e não dele, mas contraditoriamente diz que o Congresso Nacional faz parte da sua honrosa vida, de toda a sua história política e das suas contribuições ao povo brasileiro.

Ora, meu caro Senador, então nos dê uma contribuição de fato: desocupe essa cadeira, aposente-se ou renuncie ao posto de chefe dessa Casa de Leis que é de vital importância para a Nação e permita imperar os princípios de um Estado Democrático de Direito. O povo brasileiro exige respeito! Ou talvez seria de grande valia, elegermos o célebre gari, para dar um bom exemplo de moralidade e decência aos homens de colarinho branco. Recapitulando o disse que o presidente da França, Charles de Gaulle, na década de 60: “O Brasil não é um país sério!”. Alguma dúvida?



Robispierre Melo Xavier
Auditor Fiscal da Receita do Estado do Tocantins
E-mail: pierredno@hotmail.com