quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Editorial

O CAPITALISMO E OS VENDEDORES DE FELICIDADE
Aproveite! Automóvel por apenas R$69.990,00. É pegar ou largar! Só 69.990,00. Casa própria em 250 meses de R$ 550,00. Só? Eu acho que vou comprar logo uma casa. Eu já acho melhor é comprar dois carros de uma só vez, um para mim e outro para minha esposa... Se você está lendo este texto é porque talvez você tenha um computador, internet, e acima de tudo, algum tempo livre, um verdadeiro luxo para o trabalhador “normal” no Brasil.


Alguém já disse um dia que a esmagadora maioria da população da América Latina, não tem e nunca terá, uma casa própria ou um automóvel? Eu sei que os bens de consumo, hoje, estão muito mais acessíveis do que antes, tais como celulares, mp3, lavadoras de roupas, geladeiras, etc. Mas sempre achei que fazer propaganda, em rede nacional, de um carro, por exemplo, que custa em torno de R$100.000,00, é o mesmo que fazer serenata, de madrugada. Acordar duzentas pessoas, para atingir só a amada. Para conseguir comprar esse carro, quem ganha o salário mínimo, por exemplo, deve economizar tudo o que ganha, sem comer, beber, morar, respirar, viver, durante vinte e um anos. Se quiser com seguro e IPVA, por um ano, terá que trabalhar, no total, vinte e quatro anos, nas condições anteriores.

Nos vendem a imagem de que com quase nada de esforço, de dedicação, de investimento, conseguimos alcançar a felicidade e tudo o que desejarmos. Essa felicidade tão próxima de nós, separada somente pelo fino vidro de uma vitrine nos causa uma angústia e uma ansiedade, além de um complexo de culpa de achar que só nós “não somos bons” e que só nós “somos perdedores”. Ma também pode causar o inverso, de que só eu “sou o bom” e só eu sou vitorioso nesse mundo.

Todos os nossos relacionamentos, nossos sonhos, a nossa própria vida, parece empurrada para avançar dessa mesma forma. Tão próximos de um final feliz, tão fáceis de se conseguir, tão pouco a pagar por eles. O resultado, quase sempre, é um eterno carnê de pagamentos, sempre atrasado, com a nossa “dignidade no SPC da vida”. Isso quando não levam os nossos queridos bens.

Tem gente que economiza sua alegria, a vida inteira, para poder ser feliz no final, enquanto outros, querem ser feliz agora mesmo e pagam o resto da vida por isso. Tem gente que tem o nome limpo no SPC, mas vive envolvido em sujeiras e falcatruas de toda ordem.


Eu penso que o melhor a se fazer seja nem economizar nossa alegria, nem exigir uma felicidade total agora, para não ficarmos reféns dos vendedores de felicidade.
Em todo o caso, se quiser pagar o preço, você já sabe:

Quer ser feliz agora?


Aproveite logo. É pegar ou largar.


Mário Sérgio

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