terça-feira, 22 de maio de 2007

Articulistas

João Portelinha – Coordenador do Curso de Direito da UFT; Coordenador do Curso de Pós-Graduação de Direito Ambiental; Presidente da Academia Palmense de Letras – joportelinha3@ hotmail.com



O homo religiosus e a ciência

O homem religioso assume um modo de existência específica no mundo e, apesar do número considerável das formas histórico-religiosas, este modo específico é sempre reconhecível. Seja qual for o contexto histórico em que se encontra, o homo religiosus crê sempre que existe uma realidade absoluta, sagrada, que transcende este mundo, mas que se manifesta a todo o momento e em todo lugar, e que, por este fato, o santifica e o torna real. Crê, além disso, que a vida tem uma origem sagrada. A religião é sempre a influência predominante na sua conduta. Não obstante o poder do pensamento religioso sobre o quotidiano do público em geral, a maioria das instituições está organizada pragmaticamente, aparecendo a religião, na medida em que é nelas incluída, com um papel meramente formal. Nós vivemos essa situação hoje em relação ao aborto. No mundo industrializado, onde se nota que o impacto da ciência teve maior sucesso e é conspícuo, deu-se um decréscimo acentuado no número de aderentes às maiores instituições religiosas tradicionais. Contudo, seria um erro concluir que o declínio do número dos que freqüentam a igreja pode ser diretamente atribuído à maior proeminência da ciência e da tecnologia.

Muita gente preserva no seu íntimo crenças profundas sobre a natureza do mundo, que podem ser classificadas de religiosas, mesmo que possam ter rejeitado ou, pelo menos, ignorado, as doutrinas cristãs tradicionais. Qualquer cientista pode testemunhar que, se a religião foi desalojada, em parte, da consciência das pessoas, não foi certamente substituída pelo pensamento científico e racional. Apesar do seu grande impacto ao nível prático nas nossas vidas, a ciência mantém-se tão inacessível e esquiva ao público como qualquer religião exclusiva. O que parece ser mais relevante para explicar o declínio da religião, segundo alguns, é o fato de a ciência, através da tecnologia, ter alterado tão radicalmente as nossas vidas que as religiões tradicionais parecem ter perdido a capacidade imediata de fornecer qualquer espécie de ajuda no ajustamento aos problemas pessoais e sociais contemporâneos. A Igreja é hoje, em grande medida, ignorada, porque a ciência triunfou na sua antiga guerra contra a religião ou é a sociedade que se modificou de tal forma que a perspectiva bíblica do mundo parece hoje totalmente irrelevante?

As grandes religiões do mundo, fundadas numa sabedoria e num dogma recebidos, têm as suas raízes no passado e não se adaptam com facilidade aos novos tempos. Uma flexibilidade recém-descoberta permitiu ao cristianismo incorporar algumas das facetas do pensamento moderno, a ponto de um chefe da Igreja de hoje poder parecer um herético aos nossos olhos ainda acostumados ao passado; contudo, toda a filosofia compreensiva baseada em conceitos antigos passa por grandes dificuldades ao tentar adaptar-se à era espacial. Em conseqüência disso, muitos religiosos desiludidos voltaram-se para religiões “alternativas”, que parecem mais sintonizadas com a era da “Guerra das Estrelas” e com os microchips. Christofher Evans, no seu livro intitulado ‘Cultos da Desrazão’, diz o seguinte: “As pessoas voltam-se para as Igrejas, às vezes, não para receberem esclarecimento intelectual (nem estão interessadas em conhecê-los), mas para procurar apoio espiritual num mundo difícil e incerto...

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