quarta-feira, 23 de maio de 2007

Quem não assistiu perdeu !!!!

Entrevista com José Saramago No Jornal da Globo


José Saramago, o maior autor de língua portuguesa ainda vivo, premiado com Nobel, há 14 anos vive num auto-imposto isolamento num arquipélago diante da costa da África – de onde lança sua voz crítica a sociedades, governos e governantes.


A decepção de Saramago inclui o presidente Lula e a frustração de expectativas, como a eleição de um ex-operário “Eu esperava mais e melhor. O Lula apresentou-se como alguém que iria resolver aquilo. Mas estava claríssimo que ele não podia. Se não mudava, se não transformava as lógicas do poder que fazem do Brasil um país um pouco estranho neste particular... é que no fundo não há partidos, há grupos de interesses, alianças que se fazem e que se desfazem consoante as conveniências. Há uma espécie, não quero dizer, não quero chamar de, digamos, ‘caciques’, mas há qualquer coisa que vem, digamos, na linha do ‘caciquismo’, que é o influente político que não sabe muito bem por que é que ele ganhou aquele poder, mas a verdade é que o ganhou”, avalia.


E como é que o Lula, supondo que representava essa utopia de justiça social, resolução dos problemas gravíssimos que tem o Brasil nesse particular, como é que ele ia resolver? Sozinho? Como uma espécie de Joana D'Arc que vem, digamos, que lança em riste resolver tudo? Claro que não podia”, diz.


Ao receber o prêmio, um dos maiores intelectuais da atualidade emocionou falando do avô, Jerônimo, e da avó, Josefa – os dois analfabetos. “O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever....”, ele disse na época.


A mãe, Maria da Piedade, também não sabia ler nem escrever. “Lembro-me dela a sair de casa para lavar uma escada que tinha três ou quatro andares, com o balde, com o sabão e com o esfregão e a escova, escova dura para raspar. Era assim”.


Mas Saramago está sempre atento – e crítico – às mudanças da história. “A globalização é um totalitarismo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem de suásticas. São os ricos que governam, e os pobres vivem como podem. Então, isto tem aspectos totalitários de fato, porque se tu controlas a economia mundial, os movimentos do dinheiro, a circulação dos bens, de uma certa maneira também controlas a circulação das pessoas, que é o que está a acontecer”, analisa.


Como Saramago vê o próprio futuro? “Tenho 84 anos, posso viver mais três ou quatro, ou cinco anos”. E a morte não o assusta. “Não, não, não. Tal como eu vejo, o pior que a morte tem é que antes estavas, e agora já não estás. Eu digo de outra maneira aquilo que a minha avó disse. Já devia estar farta de viver, e disse: ‘o mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer’. E ela não tinha pena de morrer: ela tinha pena de já não estar, no futuro, para continuar a ver esse mundo que ela achava bonito”.

“E realmente estou a pensar, enfim, aturdido, enfim, pela notícia e tal do Prêmio Nobel. E em voz alta: ‘sim, tenho o Prêmio Nobel’. E quê? Que eu achava pouco ter o Prêmio Nobel? Não, não, não. É que no fundo, no fundo, tudo é pouco, tudo é insignificante. Que eu estivesse a pensar no universo, e em relação ao universo, o Prêmio Nobel não teria importância nenhuma”, conta.


OBS: LEMBRANDO QUE ELE, O ÚNICO ESCRITOR PORTUGUÊS A RECEBER O NOBEL, ESTÁ VIVENDO LONGE DE PORTUGAL POR COUSA DA SENSURA !

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