terça-feira, 11 de março de 2008

Revista Caros Amigos


Eleições-2006: Blogs, Spams e Companheiros de Orkut
por Paulo Rodrigo Ranieri


Blogs, videoblogs, chats, podcasts, ciberespaço. O boom de algumas novas formas de comunicação em espaços virtuais, que proporcionam maior interatividade, vem influenciando, entre outras áreas, a publicidade, o jornalismo e a política. Na política, o uso de tecnologia pode gerar maior eficiência e transparência, como no caso dos “governos eletrônicos”, onde o cidadão conquista maior participação na gestão pública, mais acesso às informações e controle das contas públicas, por meio da Internet.Durante o recente período eleitoral, a Internet ganhou força no Brasil, assim como em outros países. Grande parte da cobertura foi realizada por jornalistas “blogueiros”, que publicavam a notícia e abriam um canal de discussão com o leitor.


No México, o blog Mirada Pública http://idealabs.tk/tag/miradapublica2006 foi responsável pela maior cobertura cidadã das eleições presidenciais em julho.O número de eleitores brasileiros que acessam a internet supera a população de muitos países – mais de 30 milhões. Mesmo assim, a menos de um mês para a realização do primeiro turno, busquei um contato via e-mail com os primeiros colocados em pesquisas de intenção de voto à presidência da República, através do e-mail indicado em seus sites, mas não houve respostas. O site do candidato Geraldo Alckmin (PSDB) passou a remeter-me uma “newsletter eleitoral” com a opção de cancelar o recebimento.Já os candidatos considerados “nanicos” procuraram compensar o pouco espaço que tinham durante o horário eleitoral gratuito através dos sites de relacionamento, como Orkut, e os de vídeo, como o Youtube. “Super Moura”, “Cururu” e “Emanuel dos Aposentados” são três dos "famosos" nanicos virtuais.O presidente Lula aparece em um vídeo de quinze segundos agradecendo aos “companheiros de Orkut” pelo apoio: “Alô companheiros que navegam no Orkut. Muito obrigado pelo apoio de todas as comunidades. Vamos juntos continuar construindo um Brasil cada vez melhor. No dia 29, você sabe. Vote 13”, diz o texto http://www.youtube.com/watch?v=fBYoCSvFhy8


O adversário de Lula no segundo turno, Geraldo Alckmin, improvisou um agradecimento aos “orkuteiros” após evento político em Minas Gerais: “Queria agradecer a todo o pessoal do Orkut, pela postura cívica, por esse trabalho voluntário (...)”. http://www.youtube.com/watch?v=OuHpVpgUxDk.Na Itália, o Nessuno TV ou “TV de ninguém”http://www.nessuno.tv/ possui vídeos gravados até mesmo por telefone celular, outra ferramenta utilizada nas campanhas eleitorais. Partindo-se do mesmo pressuposto dos e-mails spam – mensagens eletrônicas não-solicitadas enviadas em massa com fins publicitários – e do conceito de “marketing viral”, alguns candidatos optaram por “torpedos eleitorais”, como já aconteceu na Espanha e na Hungria.A migração de muitos candidatos para o marketingpolítico digital, além de uma tendência natural, surgiu após as restrições do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que proibiu antigos métodos de fazer campanha, como a exibição de outdoors e a realização de showmícios. Porém, em relação à Internet, não há uma legislação tão específica, a não ser por alguns detalhes como a alternativa dada aos candidatos de criar “a terminação can.br”.Na legislação eleitoral, divulgada no site do TSE, a palavra Internet foi citada apenas onze vezes e os termos blogs, videoblogs e spams inexistem. Os spams políticos, em sua maioria, trouxeram conteúdo difamatório contra algum adversário ou pedido em forma de protesto para que o eleitor votasse “nulo”.


Diante do quadro, o leitor pode questionar se, em breve, poderemos também votar pela Internet ou se haverá um candidato internauta em eleições futuras.Caro leitor, se as transações bancárias e as compras pela Internet são seguras, por que não haverá um sistema de votação virtual sem fraudes? É para pensar. Quanto aos candidatos internautas, eles estão surgindo. Na Suécia, por exemplo, nasceu o PiratPartiet(Partido Pirata), essencialmente formado por “cibercidadãos”, que apresenta em seu programa de governo a proposta de liberação dos downloads.No ciberespaço, o leitor transferiu-se para “ciberleitor” e o “ciberleitor” passou a ser também um “cibercidadão”. Resta a esperança de uma inclusão digital eficiente, pois que direito teria uma pessoa, em tempos de política digital, se não possui fácil acesso a um computador ou, sequer, a uma linha telefônica?
Paulo Rodrigo Ranieri é jornalista e especialista em comunicação digital.

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