quarta-feira, 25 de abril de 2007

CULTURA











Um pouco da história do forró

Quando os portugueses chegaram às praias da costa atlântica deste novo continente encontraram, ali, gente pacífica que os recebeu com curiosidade e admiração. Dentre os vários elementos utilizados para o contato inicial estava a música. Consta nos anais históricos que, nos primeiros encontros com os índios, os marinheiros portugueses tocaram, cantaram e dançaram e conseguiram fazer com que os gentios também o fizessem, estabelecendo, assim, uma forma inicial de entendimento e cumplicidade, através da música trazida pelas caravelas e com que se ensaiavam, ali, os primeiros exercícios do que viria a se tornar a música brasileira.
Consta também que, para além da receptividade e encantamento com as flautas e as gaitas, os índios, logo de início, mostraram-se inclinados a “entrar na dança” produzindo, naquelas praias dos primeiros dias da descoberta, os primeiros passos das danças que se tornariam uma das marcas mais eloqüentes do nosso modo brasileiro de se expressar através do corpo. Ainda não haviam chegado os africanos e já se tocava, cantava e dançava, sob o sol e a lua, na nova terra brasileira. Estudiosos desses tempos remotos chegam a historiar sobre o talento todo especial dos indígenas para a música dos brancos, e dos excelentes músicos que alguns dos jovens índios e índias logo se tornaram, à medida que, animados com os resultados daquelas primeiras manifestações espontâneas, os jesuítas incumbidos das tarefas de educar os nativos, se dedicavam, mais e mais, ao ensino de instrumentos como a flauta, a viola e o pandeiro.
A inventiva e a capacidade de improviso logo se manifestaram como a primeira grande contribuição do “povo nu” à musica que então se criava. Alguns desses estudiosos chegam a atribuir a esses primeiros tempos o surgimento da expressão samba (palavra de origem tupi significando roda de dança) que vem a se tornar, em especial no Nordeste, a designação genérica para toda festa, todo folguedo, toda reunião lúdica regida pela música. Com a chegada do povo negro, introduzem-se os batuques e as gingas próprias daquelas gentes africanas (inicialmente bantu e em seguida gêge-nagô) que vêm trazer a contribuição definitiva à criação da vibrante música e do sensual requebrado, marcas da festa nacional da qual o modo mais emblemático ficaria conhecido como samba.
Ainda me recordo da surpresa de que fui tomado quando, ao percorrer extensa região nordestina de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Ceará em 1972, ao voltar do exílio na Inglaterra, encontrei a expressão samba a designar, justamente, os arrasta-pés e os bailes locais. Ali, não o samba - tal como conhecido na Bahia e no Rio - mas o baião, o xote e o xaxado eram as principais manifestações musicais. Creio que a designação genérica de forró para a festa torna-se predominante, à medida que este termo, de origem urbana, passa a ocupar o imaginário nacional, seguramente após a disseminação do baião e de toda a sua família musical, iniciada a partir de Luiz Gonzaga, o grande responsável pela divulgação dos gêneros nordestinos em nível de massa, nos idos de 1950.
Através dos nordestinos e dos sulinos, dos baiões e das polcas, o forró vem se tornando um espaço de cultivo musical, criação coreográfica e ambiente de convívio para pequenas populações rurais e grandes aglomerados urbanos em que se produzem ricas trocas entre culturas e regiões, dentro do grande caldeirão étnico, político e religioso em que se vem constituindo este híbrido sociocultural chamado Brasil.

Nenhum comentário: